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30 de Janeiro de 2008

O programa de recuperação e requalificação do Jardim Público da cidade de Évora está prestes a ser implementado no terreno, após terem terminado as sondagens arqueológicas coordenadas pela Câmara Municipal de Évora, que tiveram como o objectivo identificar e registar estruturas arqueológicas existentes na área destinada à intervenção e que permitiram revelar e reconstituir a implantação exacta do trajecto evolutivo da cerca medieval da cidade. O levantamento de vestígios arqueológicos condicionará o desenvolvimento do projecto de recuperação e condicionará os futuros trabalhos, garantindo-se assim a sua salvaguarda.

As sondagens arqueológicas foram realizadas por uma empresa especializada, a Arkeohabilis, que entre Abril e Dezembro de 2007 abriu várias unidades de trabalho, distribuídas por toda a área de jardim. Estes trabalhos permitiram esclarecer algumas dúvidas sobre várias questões em aberto no debate historiográfico e arqueológico, que persistiam acerca das dimensões e organização do Paço Real. Deste apenas restou o actual Palácio de D. Manuel, que se ligava ao Convento de S. Francisco, hoje em dia resumido à Igreja e à ala nascente, onde se situa a Capela dos Ossos, e parte do claustro medieval.

Na zona da Mata identificou-se um troço de muralha, com 1,25 metros de largura e aproximadamente 18 metros de extensão, numa zona de ligação à Porta do Raimundo e com cerca de 12 metros na área anexa ao tanque de água, fazendo a sua ligação ao pano de muralha ainda visível. A estrutura estava bastante danificada, por acção das raízes das árvores centenárias plantadas na zona envolvente, resumindo-se o achado ao seu embasamento, e elevando-se até aos 50cm de altura máxima a partir do substrato geológico, situando-se apenas a poucos centímetros do nível do solo.

Numa outra sondagem, efectuada entre os dois torreões circulares, foi possível identificar o único vestígio de muralha barbacã em toda a área de intervenção, estrutura que ostentava 0,80 metros de espessura, à semelhança dos troços identificados no exterior da Cerca Fernandina, no espaço que medeia entre a Porta de Alconchel e a Porta da Lagoa. Refira-se ainda que a barbacã apresentava um reforço adossado pelo exterior, com uma largura máxima de 2,30 metros de espessura. O aparecimento deste reforço, de tão exageradas dimensões, conduziu à abertura de uma nova sondagem no espaço imediatamente adjacente, de modo a que se possam registar os limites e direcção do seu trajecto. A construção deste reforço deverá mediar entre a data de construção da muralha Fernandina medieval do séc. XIV e os baluartes modernos do século XVII.

Torna-se ainda possível que esta estrutura, bem como a barbacã, se disponham paralelamente, e de modo contínuo, ao longo de todo o pano de muralha descoberto no Jardim Público, visto tratar-se da primeira linha de defesa do recinto fortificado da cidade. O pano de muralha medieval visível ao longo do limite setentrional do Jardim encontra-se interrompido no Torreão das Ruínas Fingidas. A continuação desta muralha foi identificada a partir deste ponto, na base da escadaria de acesso à citada Torre, partindo daqui em direcção ao Palácio de D. Manuel. A espessura deste pano é semelhante à da muralha disposta na área da mata, com uma largura de aproximadamente de 1,25 metros.

Nesta área destaca-se ainda a existência de duas outras Torres, descobertas parcialmente, e de dimensões superiores aos panos principais, torres essas que se encontram traçadas em inúmeras plantas dos sécs. XVI e XVIII. Uma das sondagens revela que a primeira Torre se encontra claramente adossada ao pano primitivo da muralha, não sendo necessariamente contemporâneo desta. Encontram-se ainda outras estruturas adossadas à muralha, cuja funcionalidade não pôde ser inteiramente determinada, mas que poderão estar relacionadas com dependências do antigo Paço Real.

As descobertas conduzem à existência de uma segunda fase de construção das linhas defensivas da cidade, compostas originalmente por um pano de muralha principal (1ª linha de defesa) e barbacã (2ª linha de defesa), a passar seguramente num ponto mais a norte destes últimos elementos, mais robustos. Apesar destas duas primeiras linhas defensivas não terem sido identificadas nas sondagens arqueológicas aqui realizadas – ao contrário do que sucede no sector poente do jardim – não se descarta a possibilidade da existência dos mesmos nesta área.

Neste contexto, o projecto de sondagens arqueológicas permitiu um novo conhecimento do Centro Histórico de Évora, nomeadamente da riqueza patrimonial em torno do Jardim Público, onde se ergueu em tempos o Paço Real de Évora, a segunda residência do Rei, comparável ao Paço das Escolas, em Coimbra, ao Paço Real de D. João I, em Leiria, e ao Paço da Ribeira, em Lisboa.

Todas as estruturas desvendadas nas sondagens foram novamente cobertas e devidamente protegidas, de modo a garantir a sua protecção e conservação na preparação do terreno para as obras do programa de recuperação e requalificação do Jardim Público, que terão início no final deste ano. Contudo, os novos dados arqueológicos continuam a ser alvo de estudo e serão contemplados na fase de concepção do projecto de requalificação, podendo ser traduzidos num centro de interpretação.

A recuperação do Jardim está estimada em 1.200.000 euros e abrange 33.000m2, que correspondem à área total deste complexo que é um elemento fundamental da estrutura ecológica da cidade, que durante quase 150 anos desempenhou um papel multifuncional na vida da cidade: como espaço de passeio, de lazer, de encontro e festa, e de palco para inúmeras actividades culturais e recreativas.
publicado por EOL às 08:00
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