Os Bancos Alimentares Contra a Fome recolheram em Portugal no passado fim-de-semana um total de 1659 toneladas de géneros alimentares - um acréscimo de 10% em relação a Dezembro do ano passado - na campanha realizada em 973 superfícies comerciais das zonas de Abrantes, Algarve, Aveiro, Coimbra, Évora, Lisboa, Portalegre, Porto, Setúbal, Cova da Beira, Leiria-Fátima , S. Miguel e Oeste.
A campanha deste fim-de-semana constituiu uma nova oportunidade para os portugueses evidenciarem a sua habitual postura solidária com as pessoas mais desfavorecidas da sua região, acentuada pela proximidade do Natal. Esse foi, aliás, precisamente o sentido da mensagem publicitária relativa à campanha: “Com a coragem e a bravura de muitos heróis, o Banco Alimentar consegue fazer chegar alimentos a milhares de pessoas durante o ano inteiro. Por mais simples que seja a sua contribuição, sempre fez, faz e fará a maior diferença. Continue a ser o herói de muitos milhares de pessoas carenciadas”.
A combinação da solidariedade generosa dos portugueses e da eficácia comprovada da acção dos Bancos Alimentares Contra a Fome na tentativa de minorar a penosa realidade da pobreza, constitui a prova evidente de que a sociedade civil se pode substituir com vantagem ao Estado na resolução de alguns dos problemas com que se confrontam as sociedades modernas, promovendo a inclusão social com proximidade e afectividade.
A campanha de recolha envolveu 17 700 voluntários, que disponibilizaram algum do seu tempo durante o fim-de-semana para participar nesta acção. Tarefas como a recolha nos estabelecimentos comerciais, o transporte, a pesagem e a separação dos produtos, foram integralmente asseguradas por voluntários, confirmando assim a adesão entusiástica ao projecto do Banco Alimentar Contra a Fome. Os géneros alimentares recolhidos serão distribuídos a partir da próxima semana a um total de 1330 Instituições de Solidariedade Social a mais de 219 mil pessoas com carências alimentares comprovadas.
As campanhas são extraordinárias cadeias de solidariedade onde cada elo – pessoas que colocam os seus donativos nos sacos do Banco Alimentar, voluntários que dão o seu tempo e trabalho e empresas que garantem seguros, transportes, equipamentos, refeições, segurança, limpeza – é indispensável e igualmente importante.
Ao longo da próxima semana haverá ainda a possibilidade de contribuir para o Banco Alimentar nas superfícies comerciais, através da aquisição de vales de produtos, sendo as entregas asseguradas pelas cadeias de distribuição e as ofertas auditadas por uma entidade externa. Também nos postos incluídos na rede PayShop poderá ser efectuada uma contribuição, que será convertida em leite.
Alguns dados relativos à actividade
A actividade dos Bancos Alimentares Contra a Fome prolonga-se ao longo de todo o ano. Para além das campanhas de recolha de géneros alimentares, organizadas duas vezes por ano nas grandes superfícies comerciais, os Bancos Alimentares Contra a Fome recolhem doações regulares de géneros alimentares efectuadas pelas empresas, agricultores e distribuição, correspondendo, em regra, a excedentes de produção que, de outro modo, teriam como destino a destruição. Estes excedentes são recolhidos localmente e a nível nacional no estrito respeito pelas normas de higiene e de segurança alimentar.
Os Bancos Alimentares Contra a Fome distribuem os géneros alimentares recorrendo a Instituições de Solidariedade Social por si certificadas como estando em condições de avaliarem in loco a real situação de carência alimentar das pessoas objecto da sua assistência e de lhes darem o destino adequado. Deste modo, para além de combaterem de forma eficaz as carências alimentares, os Bancos Alimentares Contra a Fome lutam contra uma lógica de desperdício, apanágio das sociedades actuais.
Em 2006, os treze Bancos Alimentares Contra a Fome operacionais distribuíram um total de 18 mil toneladas de alimentos (equivalentes a um valor global estimado superior a 24,4 milhões de euros), ou seja, um movimento médio por dia útil de 72 toneladas. A actividade dos Bancos norteia-se pelo princípio genérico da “recolha local, ajuda local”, aproximando os dadores dos beneficiários e permitindo uma proximidade entre quem dá e quem recebe.
A actividade dos Bancos Alimentares possibilita o encontro entre voluntários e instituições beneficiárias, por um lado, e entre fornecedores da indústria agro alimentar, empresas de serviços, poderes públicos e o público em geral, em especial durante os fins de semana das campanhas de recolha, em que todos trabalham lado a lado por uma causa comum: a luta contra a fome. Graças às parcerias estabelecidas entre todos estes intervenientes, a ajuda alimentar é em muitos casos uma alavanca para a inserção social para as pessoas necessitadas.
Fomentar o acompanhamento individual e a inclusão social
Por outro lado ainda, a acção dos Bancos Alimentares Contra a Fome procura concretizar uma ajuda alimentar de qualidade, por via de um melhor equilíbrio nutricional dos produtos distribuídos e pelo desenvolvimento de formas diferentes de acolhimento das pessoas carenciadas pelas instituições apoiadas. Os Bancos Alimentares Contra a Fome celebram, com esse objectivo, parcerias por um lado, com os seus fornecedores, procurando obter gratuitamente produtos diversificados com qualidade nutritiva e, por outro lado, com as instituições, acompanhando-as em permanência e incentivando as visitas domiciliárias e o acompanhamento muito próximo e individualizado de cada pesoa ou família pobre.
Em 1992, nasceu em Portugal o primeiro Banco Alimentar Contra a Fome seguindo o modelo dos “Food Banks” norte americanos, à altura já implantado na Europa, em França e na Bélgica. Estão actualmente em actividade no território nacional 13 Bancos Alimentares, congregados na Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, com o objectivo comum de ajudar as pessoas carenciadas, pela doação e partilha. Existem 202 Bancos Alimentares operacionais na Europa, que em 2006 distribuíram 274 000 toneladas de produtos a 4,3 milhões de pessoas, através de 25 000 associações (www.eurofoodbank.org).